Nos últimos anos, a Intel enfrentou dificuldades operacionais e estratégicas relevantes. A companhia perdeu sua liderança histórica em tecnologia de processo, enfrentando sucessivos atrasos na migração para nós mais avançados (10nm e 7nm), o que comprometeu sua competitividade frente a players fabless como AMD, que se beneficiou da capacidade de produção de ponta da TSMC.
A Intel também foi lenta em responder às transformações do setor, como a crescente demanda por arquiteturas heterogêneas, computação acelerada e chips otimizados para inteligência artificial — áreas nas quais concorrentes como Nvidia e ARM avançaram de forma mais ágil.
Além disso, houve uma mudança estrutural no padrão de consumo global. O ciclo de substituição de PCs se alongou, impulsionado tanto pela maior durabilidade dos dispositivos quanto por uma menor percepção de ganho marginal de performance nas atualizações. A aceleração das vendas durante a pandemia gerou um pico artificial de demanda, seguido por um arrefecimento prolongado, especialmente nos segmentos corporativo e educacional.
Com isso, a Intel viu seu principal motor de receita — o mercado de _client computing_ — desacelerar de forma abrupta, pressionando sua base de receita recorrente. Esse cenário agravou o impacto da subutilização de sua capacidade fabril, intensificando os efeitos negativos de sua alavancagem operacional.
Em resposta, a Intel iniciou uma reestruturação profunda. O plano inclui cortes de custos, desinvestimento em unidades menos estratégicas (como Network & Edge), e a reformulação do portfólio tecnológico. O reposicionamento passa pela aposta no nó 18A, pelo lançamento da nova linha de processadores Panther Lake voltados à era da IA, e pela ambiciosa expansão da divisão Intel Foundry Services (IFS), com o objetivo de transformar a companhia também em uma provedora global de capacidade fabril para terceiros.
Esse movimento estratégico foi reforçado por eventos relevantes, como o investimento da Nvidia na companhia, acordos de fabricação cruzada e o apoio direto do governo dos EUA, que vê na Intel um pilar para reconstruir a cadeia doméstica de semicondutores. Apesar desses avanços, o êxito do turnaround dependerá da capacidade da empresa em entregar seu roadmap tecnológico de forma consistente, recuperar a confiança dos clientes e atingir escala no negócio de fundição em um ambiente altamente competitivo.
**Segundo Trimestre de 2025**
No segundo trimestre de 2025, a Intel reportou resultados mistos, refletindo o estágio intermediário de sua reestruturação operacional e tecnológica. A receita consolidada atingiu US$ 12,9 bilhões, praticamente estável em relação ao mesmo período do ano anterior, com desempenho heterogêneo entre os segmentos de atuação.
O segmento de Client Computing (PCs) registrou queda de 3% na receita, impactado pelo ciclo prolongado de substituição e pela demanda ainda enfraquecida do mercado consumidor. Em contrapartida, Data Center & AI avançou 4% no comparativo anual, sustentado por uma demanda mais resiliente por capacidade de processamento em nuvem e workloads de inteligência artificial.
A divisão de serviços de fundição (Intel Foundry Services) apresentou leve crescimento de 3%, ainda em estágio inicial de escala comercial. Já as demais unidades agregadas (“All Other”) tiveram alta expressiva de 20%, embora com menor peso na composição total da receita.
Apesar da estabilidade no faturamento, a lucratividade foi severamente pressionada. A margem bruta caiu para 27,5%, refletindo ociosidade fabril, depreciação acelerada de ativos e encargos extraordinários de reestruturação. A empresa apurou prejuízo operacional de US$ 3,2 bilhões no trimestre, equivalente a uma perda líquida de US$ 0,67 por ação.
Boa parte desse resultado negativo se deve a um impacto de US$ 1,9 bilhão em custos de reorganização, incluindo baixas contábeis em ferramentas industriais e despesas associadas à consolidação de unidades fabris. Mesmo com esse cenário adverso, a Intel gerou US$ 2,1 bilhões de fluxo de caixa operacional e manteve seu plano de investimento em capital para o ano em cerca de US$ 18 bilhões, com foco na expansão e modernização de suas fábricas.
Conclusão do analista
Diante de expectativas de crescimento modesto, a empresa ainda possui potencial para criar valor para seus acionistas, principalmente se conseguir se recuperar e retornar aos níveis anteriores de produção e vendas de microprocessadores. No entanto, devemos levar em consideração cuidadosamente os riscos envolvidos em comparação com os possíveis retornos. Neste momento, optamos por evitar investir nas ações da Intel (INTC), principalmente por não trazer uma assimetria entre risco e retorno favorável.