Em 2024, a AbbVie reportou uma receita líquida de US$54,3 bilhões, representando um crescimento de 3,6% em relação aos US$52,4 bilhões de 2023. Esse avanço refletiu a forte performance dos medicamentos Skyrizi e Rinvoq, que juntos somaram US$11,7 bilhões em vendas, com crescimento de dois dígitos, e compensaram parcialmente o declínio contínuo das receitas de Humira, cuja receita global caiu para US$6,3 bilhões, representando uma retração significativa frente aos anos anteriores. A divisão de neurociência também contribuiu positivamente, com destaque para Vraylar, que superou US$2,5 bilhões em vendas.
Apesar do crescimento da receita, o lucro líquido caiu de US$4,9 bilhões (2023) para US$4,3 bilhões (2024), pressionado por despesas não recorrentes e maior intensidade de investimentos em pesquisa e desenvolvimento. Em 2024, a empresa reconheceu US$1,6 bilhão em despesas com IPR&D, além de _impairments_ relacionados a ativos de P&D em neurociência. Ainda assim, a AbbVie manteve o compromisso com retorno ao acionista, elevando os dividendos anuais pagos para US$11 bilhões, mesmo com pressão sobre a margem líquida.
**Transição Estratégica**
A AbbVie atravessa um momento crítico de transição estratégica, marcado pelo declínio acelerado de Humira — que por anos foi o principal gerador de receita da companhia — e pela consolidação de novos pilares de crescimento. A perda de exclusividade do Humira nos Estados Unidos resultou em uma retração de mais de 50% na receita do produto em 2024, pressionando a performance geral da empresa.
Em resposta, a AbbVie vem executando uma estratégia de reposicionamento focada na expansão de Skyrizi e Rinvoq, que juntos já representam mais de 20% da receita total e continuam apresentando crescimento robusto, com múltiplas indicações aprovadas nas áreas de imunologia.
Além disso, a companhia vem fortalecendo sua atuação em neurociência, com destaque para o crescimento de Vraylar, e diversificando sua presença em oncologia com a incorporação de novos ativos adquiridos, como Elahere e Epkinly.
Essa reconfiguração do portfólio tem exigido investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento, bem como em aquisições e parcerias estratégicas, o que explica o aumento das despesas extraordinárias com _IPR&D_ e _impairments_. Trata-se de uma fase de transição que visa garantir a sustentabilidade do crescimento de longo prazo, mas que, no curto prazo, traz impactos relevantes sobre os lucros e a eficiência financeira.
**Resultados Trimestrais**
No primeiro trimestre de 2025, a AbbVie reportou uma receita líquida de US$12,31 bilhões, o que representa uma queda de 5,5% em relação ao mesmo período do ano anterior (US$13,03 bilhões). O recuo foi puxado, principalmente, pela desaceleração nas vendas de Humira, que registrou US$1,37 bilhão em receita no trimestre, uma retração de 35,5% em relação ao 1T24, refletindo o avanço dos biossimilares no mercado norte-americano.
Por outro lado, os principais ativos de crescimento da companhia mantiveram trajetória positiva. Skyrizi teve alta de 19,3%, atingindo US$2,09 bilhões em vendas, enquanto Rinvoq cresceu 52,4%, totalizando US$1,11 bilhão, ambos com expansão em múltiplas indicações em imunologia. Na divisão de neurociência, Vraylar também apresentou desempenho positivo, com aumento de 29,3% nas vendas, chegando a US$643 milhões.
O lucro líquido do trimestre foi de US$798 milhões, bem abaixo dos US$2,31 bilhões registrados no 1T24, impactado por US$1,43 bilhão em despesas com IPR&D, referentes a novos acordos e colaborações estratégicas. Apesar da retração contábil, a geração de caixa operacional permaneceu positiva, somando US$2,95 bilhões no trimestre.
Conclusão do analista
Considerando o estágio atual de reposicionamento estratégico e o _valuation_ com base no ciclo operacional, entendemos que as ações da AbbVie não oferecem assimetria de retorno atrativa no momento. Diante disso, preferimos ficar de fora das ações da AbbVie (ABBV) por enquanto, mas manteremos a empresa no radar.