O segundo trimestre de 2025 foi beneficiado por um ambiente automotivo mais favorável no Brasil. Segundo a ANFAVEA, as vendas domésticas cresceram 3% e a produção avançou 8% frente ao 2T24, impulsionadas principalmente pelo salto de 78% nas exportações. Esse movimento elevou a atividade das montadoras e reforçou a demanda por serviços logísticos, criando um pano de fundo positivo para a Tegma ampliar volumes e receitas em sua principal frente de negócios.
Na Logística Automotiva, a empresa transportou 2,1% mais veículos em relação ao ano anterior, com distância média praticamente estável em razão do peso maior das exportações. Apesar do crescimento, houve perda de 2,2 p.p. de market share, consequência de desempenho abaixo da média de alguns clientes relevantes. Ainda assim, a divisão foi favorecida pelo aumento de exportações, transferências e armazenagem de veículos, sustentando crescimento de receita.
Financeiramente, a Logística Automotiva entregou receita líquida de R$496 milhões, alta de 16% a/a. O EBITDA avançou na mesma proporção, para R$86 milhões, com margem de 17,4%, levemente abaixo dos 17,5% do 2T24. A estabilidade da margem mostra que os ganhos de escala compensaram a pressão de custos, garantindo preservação da rentabilidade mesmo em ambiente competitivo. Já a Logística Integrada apresentou desempenho mais fraco.
A receita líquida recuou 2%, para R$45 milhões, impactada pela descontinuidade de um contrato de transporte. O EBITDA caiu 21%, para R$8 milhões, e a margem reduziu para 18,7% contra 23,1% um ano antes, refletindo queda da margem bruta e aumento das despesas. O resultado indica necessidade de recomposição de clientes ou contratos para recompor rentabilidade.
A joint venture GDL manteve bom ritmo de crescimento, com receita de R$79 milhões (+11% a/a), apoiada em armazenagem alfandegada e distribuição de bens de consumo. A rentabilidade, contudo, foi pressionada por reajustes de aluguel, reduzindo a margem líquida para 23,7%. A autorização da Receita Federal para alfandegamento de mais 200 mil m² — expansão de 20% da capacidade — fortalece a perspectiva futura de diluição de custos e aumento de rentabilidade.
No consolidado, a Tegma reportou receita líquida de R$981 milhões, crescimento de 14% a/a. O EBITDA também avançou 14%, para R$164 milhões, mas a margem EBITDA cedeu de 18,0% para 17,5% em razão do aumento das despesas. O lucro líquido somou R$111 milhões, avanço de 10% a/a, com margem de 12,4% frente a 13,4% no 2T24. A queda reflete tanto maiores custos quanto menor equivalência patrimonial.
A geração de caixa seguiu sólida, com fluxo de caixa livre positivo de R$41 milhões, impulsionado pela redução das contas a receber e melhor resultado operacional. O CAPEX foi de R$11 milhões, destinado a melhorias em pátios e aquisição de carretas-cegonha. O ciclo de caixa diminuiu dois dias em relação ao 2T24, reforçando a eficiência da gestão do capital de giro. A estrutura de capital permanece robusta, com dívida bruta de R$111 milhões e caixa de R$347 milhões ao fim de junho/25, resultando em posição de caixa líquido de R$236 milhões.
Com EBITDA de R$415 milhões nos últimos 12 meses, a companhia mantém alavancagem nula. A avaliação de risco “A (Estável)”, reafirmada em abril, confirma a solidez financeira. O retorno ao acionista seguiu elevado. O Conselho aprovou distribuição de R$89 milhões em dividendos e JCP, equivalentes a R$1,35 por ação, com payout de 80% e dividend yield de 8,3% nos últimos 12 meses. O patamar está acima da política mínima de 50% do lucro ajustado, reforçando a consistência da política de remuneração.
Os indicadores de rentabilidade reforçam a eficiência do modelo. O ROIC manteve-se em 39,7% e o ROE em 29,7%, ambos estáveis frente ao 1T25, em níveis elevados que sinalizam retorno superior ao custo de capital. O EVA também permaneceu positivo, comprovando geração de valor.
No plano estratégico, a aquisição de 70% da Buskar.Me por R$15,1 milhões adiciona uma plataforma digital especializada em veículos seminovos, ampliando o escopo da companhia e abrindo espaço para sinergias na cadeia de remarketing.
Somado a isso, a expansão da GDL com nova área alfandegada fortalece a posição em logística integrada, criando oportunidades adicionais para os próximos trimestres. Assim, o 2T25 mostrou uma Tegma sólida, apoiada por crescimento de receita e lucro em linha com a retomada do setor automotivo, robusta geração de caixa e elevados níveis de retorno.
O desafio permanece na recomposição de margens da Logística Integrada e na recuperação de participação de mercado na Automotiva, mas o conjunto confirma a resiliência operacional e o posicionamento competitivo da empresa no setor de logística.
Conclusão do Analista
A Tegma é uma empresa com dois riscos principais: o primeiro está relacionado a sua operação e o segundo risco ao mercado automobilístico. Nos últimos anos, foi nítido o quanto esses riscos impactaram seus resultados, pressionando seu crescimento. Como não enxergamos nenhuma barreira competitiva evidente, optamos por não recomendar as ações da Tegma (TGMA3).