O segundo trimestre de 2025 foi desafiador para o Fleury. A combinação de juros ainda elevados com um calendário mais curto, devido ao maior número de feriados, pressionou custos e reduziu a produtividade das operações. Esses fatores se refletiram nas margens, que recuaram, mas a companhia conseguiu sustentar crescimento de receitas, apoiada principalmente na força do segmento B2C e na diversificação geográfica construída nos últimos anos.
O B2C se consolidou como motor da expansão, avançando 7,2% frente ao 2T24. As marcas regionais se destacaram com crescimento de 16,5%, reforçando a estratégia de capilaridade, enquanto o atendimento móvel já representa 8,0% da receita e segue em expansão. A marca Fleury, mais madura, cresceu 4,3%, refletindo fidelidade da base de clientes e força no segmento premium. Em contrapartida, os segmentos B2B (−3,1%) e Novos Elos (−13,2%) apresentaram retração, consequência da saída de clientes, maior competição em infusões e da base de comparação inflada por exames de dengue e toxicologia no ano anterior.
Nos volumes, os atendimentos caíram 1,2%, mas o número de exames subiu 5,3%, sustentado por maior intensidade por paciente e por um mix mais voltado a exames de imagem. Essa mudança elevou em 1,8% a receita por exame, ajudando a preservar o crescimento de receita, mas ao custo de maior pressão em ocupação e equipamentos. Diante disso, a consequência é clara: a companhia consegue gerar mais receita por cliente, mas com margens pressionadas por custos mais elevados.
A receita líquida alcançou R$2,0 bilhões, alta de 2,3%, mas o lucro bruto recuou 6,9%, levando a margem a 26,1% (−260 bps). O EBITDA foi de R$532,1 milhões, crescimento discreto de 1,9%, com margem de 26,3%, praticamente estável. Esse resultado reflete, por um lado, o avanço de custos médicos e de ocupação e, por outro, a disciplina na gestão das despesas administrativas e comerciais, que impediu uma deterioração maior da rentabilidade.
O lucro líquido somou R$152,3 milhões, queda de 12,3% frente ao ano anterior, reduzindo a margem para 7,5%. Além da pressão operacional, a despesa financeira cresceu 41,3%, impactada pelo aumento da dívida bruta e pela manutenção de juros em patamar elevado. Apesar de o custo médio da dívida ter caído para CDI+0,95%, o ambiente de crédito mais caro e a expansão do endividamento pesaram sobre o resultado final.
Em termos de rentabilidade, o ROE caiu para 8,9%, refletindo a menor geração de lucro líquido em relação ao patrimônio líquido, e o ROIC encerrou em 16,4%, levemente abaixo do trimestre anterior, influenciado pelo aumento da depreciação decorrente do ciclo de investimentos em tecnologia. Essa queda de curto prazo sinaliza que o retorno aos acionistas está pressionado, mas o nível elevado do ROIC indica que o capital continua sendo aplicado de forma eficiente, com potencial de ganhos de produtividade nos próximos períodos.
A alavancagem ficou em 1,1x Dívida Líquida/EBITDA, patamar confortável e confirmado pela reafirmação do rating AAA.br pela Moody’s. O caixa de R$2,19 bilhões oferece fôlego para sustentar a estratégia de expansão, que no trimestre incluiu a conclusão da compra do Confiance, em Campinas, e o anúncio da aquisição do Hemolab, em Minas Gerais. Ambas reforçam presença regional e devem gerar sinergias relevantes a múltiplos atrativos.
O investimento em inovação também foi central. O capex de R$141,5 milhões, alta de 44,9%, foi direcionado à digitalização e inteligência artificial, como no uso de algoritmos que reduziram em até 50% o tempo de exames de ressonância magnética. Esses projetos elevam a depreciação no presente, mas ampliam capacidade, reduzem custos operacionais e fortalecem a diferenciação da companhia no médio prazo.
Por fim, o Fleury manteve a disciplina de retorno aos acionistas, com aprovação de R$169 milhões em JCP, a serem pagos em outubro, mesmo diante de margens mais apertadas. Esse movimento reforça a confiança na geração de caixa futura e na solidez financeira.
Em resumo, o 2T25 foi de crescimento modesto e margens pressionadas, mas também de avanços estratégicos em tecnologia e expansão regional. O efeito imediato é uma rentabilidade menor, refletida no ROE, mas o elevado ROIC sinaliza que os investimentos devem sustentar ganhos de eficiência e recuperação gradual das margens. O risco permanece concentrado em B2B e infusões, mas a diversificação e a robustez financeira mantêm o Fleury bem posicionado para capturar valor quando o ambiente macro se tornar mais favorável.
Conclusão do Analista
A Fleury é referência no Brasil em medicina diagnóstica, com atuação através de diversas marcas pelo país, e um portfólio amplo de serviços médicos. A companhia tem um bom histórico, mas atravessa um momento mais desafiador. Pela falta de margem de segurança, optamos em não recomendar as ações.