O 2T25 marcou um ano da criação do Grupo Azzas 2154 e consolidou o processo de integração entre Arezzo&Co e Grupo Soma. O trimestre foi descrito pela administração como guiado pela palavra-chave “eficiência”, refletindo a busca por disciplina de custos, controle de estoques e preservação de margens em um ambiente macroeconômico desafiador. Esse posicionamento é coerente com o cenário de consumo ainda contido no Brasil, marcado por juros elevados e um varejo de moda que exige maior seletividade comercial para sustentar crescimento com rentabilidade.
Nesse contexto, a companhia registrou receita bruta consolidada de R$3,62 bilhões, alta de 7,4% em relação ao 2T24. Desse total, R$3,61 bilhões vieram de marcas continuadas, avanço expressivo de 10,3% frente ao mesmo período do ano anterior. Esse desempenho mostra que a estratégia de concentrar esforços em marcas-chave após a revisão do portfólio em 2024 tem surtido efeito. O crescimento foi impulsionado principalmente pela força de Fashion & Lifestyle Women, que cresceu 20,1%, e por Fashion & Lifestyle Men, que avançou 11,5%. Já a Hering (Basic) mostrou evolução sólida de 7,3%, reforçando a relevância do modelo de megastores, enquanto Shoes & Bags ficou praticamente estável (+0,7%), refletindo desafios em Schutz e Vans.
Na análise de canais, o destaque ficou para o sell-out, que cresceu 11,6% no ano contra ano, reforçando a tendência de maior peso dos canais de venda direta ao consumidor final (B2C). As lojas próprias tiveram expansão de 14,6%, favorecidas por novos formatos e maior fidelização, enquanto o e-commerce cresceu 6,7%, refletindo um avanço mais moderado após ajustes de estratégia para privilegiar rentabilidade. Já o sell-in cresceu apenas 3,5%, impactado pelo recuo de 3,0% em franquias, movimento atribuído a uma decisão de reduzir estoques na rede, ainda que o multimarcas tenha crescido 7,8%. No mercado internacional, o grupo mostrou vigor, com alta de 25,2% em BRL, puxado pelo bom desempenho da Farm, que segue expandindo sua presença global.
O lucro bruto foi de R$1,62 bilhão, aumento de 4,2% frente ao 2T24. A margem bruta, porém, recuou levemente para 55,9% (-0,2 p.p.), o que é explicado por maiores markdowns em Shoes & Bags e menor ritmo de franquias em Basic. Esse efeito, no entanto, foi parcialmente compensado pelo maior peso de B2C, que possui margens mais elevadas. Na frente de despesas, houve disciplina: as recorrentes ex-D&A subiram apenas 2,0%, representando 37,7% da receita líquida, uma redução de 1,0 p.p. em relação ao ano anterior. Essa diluição reflete ganhos de alavancagem operacional, racionalização de estruturas e menor gasto com consultorias e marketing.
Com isso, o EBITDA recorrente somou R$535,6 milhões, avanço de 9,0% frente ao 2T24, e margem de 18,5% (+0,8 p.p.). O desempenho confirma a capacidade do grupo em proteger rentabilidade mesmo em um cenário adverso, reforçando a eficácia dos ajustes em despesas fixas e eventuais. Na visão pré IFRS-16, o EBITDA ficou em R$461,4 milhões (+8,0%), com margem de 15,9% (+0,5 p.p.), mantendo consistência operacional.
No resultado financeiro, a companhia registrou despesa líquida de R$201,7 milhões, alta de 32,9% em relação ao ano anterior. Essa pressão veio de contratos de hedge contratados em patamares mais altos de câmbio, do aumento das despesas de cartão em linha com o maior peso do sell-out, e de maiores juros sobre a dívida, acompanhando o cenário de Selic elevada. Apesar disso, o lucro líquido recorrente foi de R$283,7 milhões (+81,7%), com margem de 9,8%. Excluindo o efeito fiscal positivo da reversão de provisões ligadas a subvenções de ICMS/RJ (R$63,9 milhões), o lucro ajustado seria de R$219,7 milhões (+41,0%), mostrando que a evolução não dependeu apenas de efeitos contábeis.
A alavancagem se manteve controlada em 1,3x Dívida Líquida/EBITDA LTM (pré IFRS-16), mesmo após aumento da dívida líquida para R$2,2 bilhões. O caixa encerrado em R$823 milhões foi reforçado por captação de R$600 milhões em debêntures, alongando o perfil de vencimentos e reduzindo pressões de curto prazo. Além disso, o grupo manteve sua agenda de retorno ao acionista com recompra de ações, somando R$10 milhões no trimestre e mais R$69 milhões já em julho, sinalizando confiança da gestão.
Por unidade de negócio, Fashion & Lifestyle Women foi novamente o carro-chefe, com R$1,45 bilhão em receita e destaque para a Farm, que cresceu 22% em SSS no Brasil e 35,3% em BRL no mercado internacional. Animale também seguiu firme, com SSS de 16%, refletindo ajustes de reposicionamento. NV mostrou expansão acelerada, crescendo 123% no canal multimarcas. A Hering avançou em lojas próprias (+24,2%) e e-commerce (+15,9%), consolidando as megastores como vetor de crescimento. Por outro lado, franquias caíram 7,8% pela decisão estratégica de redução de estoques.
Fashion & Lifestyle Men mostrou consistência, crescendo 11,5% em receita, com forte tração em multimarcas (+34,9%) e franquias (+24,8%). A marca Oficina registrou SSS acima de 20%, reforçando sua relevância no portfólio. O e-commerce, entretanto, caiu 8,5%, reflexo de ajustes estratégicos para reduzir descontos e preservar rentabilidade, favorecendo as vendas full price em lojas físicas. Já Shoes & Bags, mesmo com crescimento tímido (+0,7%), reforça a necessidade de transformação: Schutz e Vans pesaram negativamente, embora Arezzo e Anacapri tenham registrado evolução positiva.
No campo da governança, a nomeação de Nicola Calicchio como presidente do Conselho reforça simplicidade e alinhamento entre os controladores, preparando terreno para o próximo ciclo. A administração definiu três prioridades estratégicas: acelerar a integração, focar energia no negócio e construir a Visão 2030, um plano de longo prazo para capturar o pleno potencial de valor do grupo.
Do ponto de vista de rentabilidade, o grupo reportou ROE de 9,53% e ROIC de 0,36% no 2T25. O primeiro indicador reflete a boa geração de lucro líquido frente ao patrimônio líquido, favorecido pela alavancagem operacional e pelo efeito fiscal positivo. Já o ROIC segue pressionado pela ainda elevada base de capital investido após a fusão, mas tende a melhorar à medida que a integração avança e os projetos estruturantes, como o Hub de Malharia e a expansão internacional da Farm, começam a maturar.
Em resumo, os resultados do 2T25 mostram um grupo que soube equilibrar crescimento com disciplina, avançando em eficiência operacional e sustentando margens em meio a pressões setoriais e macroeconômicas. O desempenho de Women, Men e Basic compensa fragilidades em Shoes & Bags, enquanto a expansão internacional da Farm reforça o alcance global da companhia. Os próximos trimestres dependerão da execução da agenda estratégica e da capacidade de recompor franquias e transformar Shoes & Bags, mas a trajetória de eficiência e capital disciplinado sugere bases sólidas para geração de valor no médio prazo.
Conclusão do Analista
A Arezzo é uma referência em moda no Brasil, com um portfólio de marcas de alta reputação. Ela busca novas linhas de produtos para aumentar seu faturamento, mas isso vem a um custo alto. Por isso, não recomendamos a compra das ações da empresa (ARZZ3).